Ao abrir das cortinas, o espetáculo mostrava a que vinha: iluminação, empenho artístico e técnico, representações e vozes brilhantes. “Um Rio de Janeiro num mar de poesias” intitula a nona edição do Festival Literário Notre Dame (FIND) que, na noite de sexta-feira (25), levou ao palco as dez poesias finalistas do evento organizado pelos educandos da 2ª e da 3ª Série do Ensino Médio, sob a supervisão geral do educador Maurício Krause e a direção do estudante concluinte, Cezar Adnet.
Algumas interpretadas por seus autores e outras por colegas ou convidados, as criações foram submetidas à análise de um júri técnico, composto pela Mestre em Semiologia, Débora Finamôre, pelo Mestre em Arte-Educação, José D’Assumpção, pela Especialista em Cultura e Literatura Africanas, Marlene de Araújo, pelo ex-aluno Notre Dame e mestrando em Artes Cênicas , Rodrigo Viégas, pela Mestre em Educação, Taiana Machado, e pela Mestre em literatura angolana e psicanálise, Mayara Neres Matos. Após avaliação desses especialistas, as três melhores poesias e o melhor intérprete foram premiados, assim como a eleita por voto popular.
A realização de mais uma edição do Festival foi festejada pela diretora escolar, Ir. Loiva Urban. “Vimos, escrevemos, filmamos e projetamos na Via Láctea, novas estrelas, estrelas-pessoas que nesta noite desfiaram os seus versos, crescendo em poesia, imaginação, história, geografia e canção”, comentou a religiosa.
A alegria dela era compartilhada por aqueles que, em meio ao auditório lotado, tinham o olhar nostálgico de ex-alunos. Um deles, Arthur Guedes, além de se espectador, interpretou uma das poesias. Ele, que participou como estudante no ano passado, afirma que as experiências são distintas. “Não é a mesma coisa voltar como convidado. Quando participei em 2014 ainda estava atrelado ao lado acadêmico do projeto. Desta vez, me envolvi apenas com a arte em si, interpretando um personagem nas cenas do espetáculo. Vim como ator, e ex-aluno, claro!”, relata Arthur.
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Conheça os vencedores:
Acorda!
Por Gabriel Matuk – 1ª Série B
Tu acreditaste que eras livre?
O sistema é bruto e não perdoa;
Eles me venderam a mesma história;
Não é como se quem vive e sabe,
Ache que é só mais uma coisa boba.
Essa história é boa
E vende nos jornais,
Mas a diferença que faz
É que a ilusão se torna real;
E quem vê logo diz
“Ele quer o mal”!
Mal quero ou quis dizer
Viver só de mero a fazer.
Quero viver de verdade
E abraçar a arte;
Mas lutar pela experiência,
Experimentar a eloquência
E sentir que tenho ciência;
E saber que tenho a paz.
O sistema é bruto e não falha;
Está em tudo, em toda navalha
Que pertence a todo homem.
Corta os teus corações e escorre;
Escorre deles a alma e te transforme
Corta a corrente que te prende e corre.
Acorda!
Não fizemos tudo que pudemos, mas olha
És um dos poucos então não te afogues
Mas te afoba
Não te conformes
Te reforma
Te informa
Vive tua luta e teu sonho
Levanta da tua cama e do teu sono
Vive tua poesia, teu sentimento
Quem diria que nesse momento
Estarias salvo e são?
Encontrarias a paz do teu coração.
Melhor Intérprete e 3º Lugar Geral
Despedida
por Laura Araújo – 3ª Série B
É o tempo todo uma pressão!
Ao meu redor, conspiração;
O dia inteiro escuto não
E você quer motivação?
Será que ninguém vê
Que somos só adolescentes?
Tanto tempo pra viver,
Tanta coisa pela frente…
O presente!
Urgentes notícias pra você!
Não sou número, eu sou ser!
Sou indivíduo e endosso.
Se Caetano disse, também posso:
Gente nasceu pra brilhar!
E não pra fazer vestibular.
Mas o sistema é antagonista,
Sem coração, capitalista,
Sadomasô imperialista,
Professor favoritista
Não perdoa não, amiga.
E eu não fui a escolhida.
Na linha de produção,
Só tem uma direção:
Estudar, trabalhar, sem parar
Nosso foco é te anular.
Mesmo com um nó no peito,
Enquanto posso ,aproveito;
Persistente e irreverente,
Primeiramente, eu sou gente.
Quinze anos nessa casa,
Fecho esse ciclo agora.
Inspiro e abro as asas
Com a benção, vou me embora.
Um Olhar Particular Sobre a Exclusão
Por Isabel Lessa – 1ª Série A
Inha é minha menina
bonita, sozinha;
adulta por medo;
menina por dentro,
mas que sorte da menina:
nasceu em cidade famosa.
Grande coisa!
Longe do Rio;
perto do tiro;
jogada no beco,
sem pais,
sem país .
Menina, vem cá.
Tenho uma coisa pra se experimentar
e nunca mais conseguiu parar.
O beco virou seu lar;
prostituição pro vício sustentar
e quando seu corpo não for suficiente
restará somente
afogar-se num mundo sem cor,
repleto de dor .
Aos dezesseis, a menina,
além de pobre e prostituída,
é ladra perdida;
sem ninguém pra lhe ajudar.
Como sozinha vai dessa vida se safar?
Mas, afinal,
é tudo marginal!
A pequena menina sonhadora
abraçando a Morte, sua redentora,
abandona a vida
como a vida a abandonou.
Projeto de RAP
Por Guilherme Carias – 3ª Série A
Sou filho da areia e não faço besteira
Minha mãe eu lhe apresento,
É a famosa sereia.
Na praia não tem crime
De origem e cor;
Aqui só reside
Beleza e amor.
Você que tá me olhando feio
E quer me humilhar?
Na Lapa não tem erro;
É só saber rimar.
Somos abençoados
Pelo meu senhor;
De braços abertos
Está o Redentor.
Nossas expressões são: “tá ligado e mongol”;
Domingo é só cerveja, altinha e futebol;
O costume lá no morro é soltar pipa com cerol
E no arpoador é aplaudir o sol.
Aqui as influências
são as melhores para mim;
ando duas quadras
tô na casa de Jobim.
Jogo no Maracanã? Aham.
Lá os cara grita, aplaude
E se esquece do amanhã
Aqui tem candy land;
Se quiser vou te mostrar.
Com fio que se estende,
O Pão de Açúcar vai formar.
E o biquíni, maluco? Fio dental…
Beleza carioca que não tem igual.
Aqui a brisa te envolve,
Uma brisa sensual;
De dia te leva à praia
E de noite ‘prum’ lual
Se tu fala “meu”,
Tu é chamado de paulista.
Cuida do que é teu,
Se não, vai rodar na pista.
Parabéns Rio 450 anos,
Escola que já formou
Mais de mil malandros.
E na pureza a vida,
Aqui eu vou levando;
E toda ingresia
‘pra’ casa vai andando.
Demais finalistas:
MORENA – Lidiane Travaglia
Morena, com todo esse gingado,
Eu sei que vou me apaixonar;
Morena, com esse samba todo…
É impossível não te amar.
Suas curvas são um pão de açúcar,
Onde posso me aventurar,
Com sua Lapa de bons sorrisos
Perfeita para namorar.
Em uma Copacabana que dá
Gosto de olhar,
Lá sei que posso te apreciar
Com suas curvas como ondas do mar.
Posso me atracar no porto dos seus lábios
Como barcos ancorados a balançar.
Na enseada botafoguense, que consegue me hipnotizar,
Morena, teu beijo me deixa sem ar.
Por tão intensos sentimentos,
Posso gritar com a raça rubro-negra;
Ser guerreiro tricolor por todo seu amor;
E depois da virada da cruz de malta,
Ter a glória de um amor alvinegro.
E, ao casarmos, se quiser podemos morar
Em uma jeitosa Tijuca ou talvez…
Na planejada Barra que também é da Tijuca
Mas se quiser luxo, quem sabe…
Um Leblon à beira mar.
Contudo ao surgir o anoitecer,
E as montanhas observar,
Com luzes a copiar um intenso estelar,
Lá desejarei morar.
E ao fim, Morena, quando para o alto olhar,
Venerando o Cristo de braços abertos
Terei a certeza de que, por mais quatro séculos,
Eu poderei te amar.
OBSCURA REALIDADE – Paola Lino
Praias e calçadão de Copacabana.
Ladrão e polícia numa guerra insana.
Cristo e Corcovado.
E continuam excluindo o favelado!
Lapa e Lagoa.
E a condição do SUS não é boa.
Se há beleza,
Por que não deixar de lado a pobreza?
Mas isso não funciona com todos…
Para mim, o Rio não continua lindo.
Para mim, todas essas riquezas não valem nada,
se nessa mesma cidade,
tem gente que vive tão humilhada.
Cidade Maravilhosa até quando?
Quando vamos parar para pensar
e deixar de banalizar
as atrocidades com as quais vivemos?
São as crianças morrendo,
As chacinas acontecendo;
E nós aqui…
Fingindo que não estamos vendo!
Queria eu poder estar feliz
ao aplaudir o pôr do sol em Ipanema;
Queria eu poder dar a tranquilidade da minha vida
aos que não conseguem dormir
com medo de bala perdida.
Queria eu poder parabenizar o Rio pelos seus 450 anos…
O INVENCÍVEL DERROTADO – Ingrid Andrade
Vejo o mundo ao meu redor,
Girando sem direção.
Pessoas com medo,
Sem orientação.
Negam o amor;
Transborda a dor.
O sufocante pesar
De nunca relaxar.
Lugares cheios
De pessoas vazias.
O riso é choro;
O choro não importa.
Importam só eu,
O que eu quero, o que eu preciso,
Com quem me importo.
Quem se importa comigo?
Mas migo não faz nada.
Preciso de alguém
Com uma lente diferente
Para olhar no meu lugar.
Sonhar é para criança!
Imaginar é distração!
Olha para baixo!
Presta atenção!
Foca na vida,
Sem nada viver!
Vivo porque vivo;
Vivo sem querer.
Rotina me incomoda:
Dormir e acordar.
Mas para quê?
Para quem?
Por onde vou,
Tenho que ir.
Continuo acreditando,
Talvez,
No brilho ligeiro
Do sorriso do porteiro,
Ao dizer o escasso
Bom dia!
VOO – Fabiana Scarpa
Certo e errado
é questão de opinião.
E se eu quiser viver em Macondo
Por cem anos de solidão?
Rio de incertezas e insegurança.
É o Rio de Janeiro,
É o rio de água mansa.
Tá na hora do pássaro sair do ninho.
Duas décadas menos dois
E ainda prende-se no infantil
Feijão com arroz.
A pressão e a angústia
Fazem o pássaro questionar as próprias asas.
Seria bom o suficiente
Para planar sozinho?
O grande céu ainda tem pela frente
Em busca do sonho.
Do sonho de cuidar de gente.
Mas em muitos céus,
O pássaro ainda quer voar.
A vida é pequena para continuar de si a duvidar.
Acredite, pássaro! Voe atrás então!
Fuja do padrão!
Acredite ser o certo, afinal,
Certo e errado
é questão de opinião.
TEMPOS PARTIDOS – André Aranega
Promessas, propostas, compromissos
Na mercearia da ilusão.
Palavras dos que nasceram omissos
Por natureza e profissão.
Distante da realidade,
Do mal é anfitrião.
Sem lugar para bondade
Ou sinais de compaixão.
Muda de lado como olha para o céu;
De dia na esquerda, à noite na direita.
Assim vai saltando ao léu,
Seguindo sua própria receita.
Desde menino, o circo armado:
Mentiras como principal atração;
Risos falsos no centro do tablado;
Nós palhaços, sem nenhuma função.
Meu filho pergunta, com olhar distante:
— De que lado devo ficar?
Eu digo que é coisa de gente grande…
— Filho, você nunca vai acertar!
Como dizer a verdade
Que não muda nunca?
Em política é tudo vaidade,
Adornos de uma espelunca!
ADIÓS – Andrea Cazal
A cada profesor que la ayudó;
A cada compañero que la apoyó;
A cada amigo que la conoció;
A cada risa que pasó;
A todo eso ella tendrá que decir adiós.
Con miedo a sufrir no quería querer,
Pero ese miedo fue pasando y acabó amando sin medir.
¿Ahora qué hace ella con tanto amor?
Sabiendo que ya perdió el pudor,
Pensando en un nuevo rumbo,
En un nuevo camino que no tendrá
El calor de un abrazo amigo.
Ya no sabe que pensar, pues ella sólo quiere llorar…
Decirle a todos que esta historia debe acabar
No lo quiere ni siquiera imaginar.
Todos esos recuerdos que ha pasado junto a ti, amigo,
Puedo decir que no tendrá ningún sentido,
Porque ya no estará aquí contigo
No sé si lo has notado querido amigo
Pero este fue el medio que ha encontrado
Para poder decirte:
¿Por qué será así el destino?
Que tienes que abandonar a tus amigos!
Tradução: ADEUS – Andrea Cazal
A cada professor que a ajudou;
A cada companheiro que a apoiou;
A cada amigo que a conheceu;
A cada sorriso que passou;
A tudo isso ela terá que dizer adeus.
Com medo de sofrer não queria amar,
Mas esse medo foi passando e acabou amando sem medir.
Agora o que ela faz com tanto amor?
Sabendo que já perdeu o medo
Pensando em um novo rumo,
Em um novo caminho que não terá
O calor de um abraço amigo.
Já não sabe o que pensar, pois ela só quer chorar…
Dizer a todos que esta história tem que acabar
Não quer sequer imaginar.
Todas essas lembranças que passou com você, amigo,
Posso dizer que não terá nenhum sentido
Porque ela já não estará aqui contigo.
Não sei se você percebeu, querido amigo
Mas este foi o meio que encontrou
Para poder dizer:
Por que será assim o destino?
Por que temos de abandonar nossos amigos?