Destaque no O Globo de quinta-feira 15 de janeiro, o ex-aluno Notre Dame, Carlos Eduardo Lopes Marciano, obteve nota 1000 no Enem em 2014. O jovem de 19 anos estudou no Colégio Notre Dame Ipanema desde a Educação Infantil, concluiu o Ensino Médio em 2013 e faz parte do grupo de 250 pessoas com nota máxima na Redação do Exame Nacional do Ensino Médio. “Estar entre os 250 felizardos que obtiveram a nota máxima (mil) na redação do Enem 2014, num universo de 5,9 milhões de candidatos que tiveram seus textos corrigidos, surpreendeu muitos deles”, relatou a matéria do jornal.
Sua trajetória de excelentes notas no Enem começou em 2012 quando, ainda na 2ª série do Ensino Médio, por preparação, obteve nota 940 no exame. Este feito colocou-o entre os 1,1% dos candidatos com nota acima de 900 (clique aqui para ver a matéria que fizemos com Carlos Eduardo sobre sua prova de 2012). Em 2013, quando concluiu o Ensino Médio, atingiu a marca de 960 pontos, classificando-se para Engenharia Elétrica na UFRJ.
Contatado pela Assessoria de Comunicação do Colégio Notre Dame, Carlos Eduardo, que almeja outro segmento de Engenharia, deu algumas dicas sobre o Enem.
Para Carlos Eduardo, nada disso substitui as aulas, mas sim apenas complementam. “Eu lembro que tinha poucas dúvidas durante o ano, mas eu dava bastante importância às aulas, principalmente às minhas matérias específicas. Sempre anotava no caderno quando o professor falava algo que eu não sabia”, explica o ex-aluno Notre Dame.“A maneira como eu estudei para as provas de vestibular foi revendo, desde o início do ano, toda a matéria do ensino médio. Não precisa estudar muito desde o início: eu lia por volta de um capítulo do livro de Biologia 1 por dia, pois eu nunca fui muito bom em biológicas. Além de ler, eu pesquisava vídeos na internet, lia outras fontes. Mas, fazendo isso, consegui dominar essa matéria. É muito importante, no início do ano, focar nas matérias que você tem pouco domínio.”
A importância de estudar tudo e não deixar nada de lado é enfatizada pelo estudante como uma das formas de agregar informatividade ao conhecimento. “Mesmo que não caia alguma questão sobre algum assunto que você estudou, você pode aproveitar pra usá-lo na redação. Por exemplo, mesmo que não apareça uma pergunta sobre fluxos migratórios ou geopolítica atual, esses são assuntos que podem ser muito bem aproveitados na hora de escrever um texto”, exemplifica.
A última dica fica por conta dos prazos. Veja o que disse Carlos Eduardo: “por fim, na hora do Enem, é importante chegar entre 1 hora e 45 minutos antes da prova pra garantir um bom lugar, se acostumar com a sala, respirar e se acalmar um pouco. Além disso, é importante aproveitar de praticamente todo o tempo do exame. Sair cedo geralmente indica que algo deu errado. Faça a prova com calma, se preocupando apenas se você não está excedendo o tempo de cada questão. Eu, por exemplo, fui um dos últimos a sair no dia em que escrevi a redação nota mil e tive que assinar a pauta de sala. Lembro que, por ter demorado 1h30 na redação, tive que correr um pouco durante a prova. É normal, imprevistos acontecem. “, concluiu.
RIO – Estar entre os 250 felizardos que obtiveram a nota máxima (mil) na redação do Enem 2014, num universo de 5,9 milhões de candidatos que tiveram seus textos corrigidos, surpreendeu muitos deles. Os cariocas Carlos Eduardo Lopes Marciano, de 19 anos, e Maria Eduarda de Aquino Correa Ilha, de 18, conseguiram o feito. Ambos fizeram o exame pela segunda vez, apesar de já terem sidos aprovados para cursos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com as notas do Enem 2013. Ao GLOBO, ambos analisaram seu desempenho e arriscaram explicações para o bom sucesso mesmo diante de um tema que professores consideraram “árido”: publicidade infantil.
Aluno do 2º período de Engenharia Elétrica na UFRJ, Carlos Eduardo fez o exame no ano passado pensando em trocar sua habilitação para Engenharia Química ou da Computação. Em 2013, ele havia tirado 960 na redação. Agora, gabaritou. Mesmo sem estudar.
– Sempre tive o dom de escrever. Escrevia poemas e outros textos e gostava de redação argumentativa. Só estudei no Notre-Dame de Ipanema e tive uma professora muito boa de redação, chamada Marilene Tinoco, que me ajudou muito – conta o estudante, que chegou a cursar o primeiro semestre de Direito na Uerj no ano passado, mas não gostou do curso.
‘TIVE DE PENSAR MAIS’
Carlos Eduardo também tentou vaga na Universidade de São Paulo (USP) e leu os nove livros indicados pela Fuvest, realizadora do exame paulista. Ele concorda que o tema da redação do Enem em 2014 foi mais difícil que o do ano anterior (Lei Seca):
— Tive que pensar mais para desenvolver o texto. Lei Seca era algo mais debatido. Estudei muito durante 2013. Então, essas coisas ficaram fixadas na minha cabeça. Tenho lido menos do que gostaria agora. Mas adoro Jorge Amado.
Como ele, Maria Eduarda também atribui ao amor pelos livros parte do repertório que acumulou e foi fundamental ao argumentar sobre prós e contras da publicidade infantil no país. O texto de apoio e o senso crítico que ela desenvolveu também ajudaram.
Com o desempenho no Enem 2013, ela já havia passado para o curso de Direito na UFRJ, no turno da noite. Mas fez o exame de novo a fim de garantir uma vaga no período integral (matutino e vespertino).
— Em 2013, tirei 840 na redação. Passei para o noturno da UFRJ e da UFF (Universidade Federal Fluminense), mas resolvi tentar de novo. Aprendi a escrever com meus professores do cursinho — ela brinca. — O tema de 2014 foi mais complexo por não ter sido tão trabalhado pela mídia. Já o de 2013 se refere ao cotidiano dos candidatos, pelo menos nas metrópoles, e foi tratado de diversos pontos de vista em diferentes veículos, inclusive no Twitter, uma rede social bastante utilizada pelos jovens. Portanto, para se sair bem eram necessários uma bagagem cultural maior e um nível mais intenso de reflexão.
A queda de 9,7% na média da nota de redação dos concluintes (de 521,2, em 2013, para 470,8, em 2014) é explicada por professores de diferentes formas. Para o coordenador de redação do curso _A_Z, Bruno Rabin, ela está relacionada à aplicação de um tema mais árido, que exigia uma formação cultural mais ampla e uma maior recepção prévia de informações.
Além disso, de acordo com Rabin, é importante lembrar que o texto é feito juntamente com as provas de linguagens e matemática. Levando-se em conta que o desempenho nesta última disciplina também caiu, é possível inferir que o segundo dia de provas foi mais duro:
— Os alunos provavelmente ficaram pressionados com o tempo, e isso influiu.
Soma-se a isso, segundo diz, o fato de o exame ter sofrido um aumento considerável no número de candidatos.
— Essa elevação provavelmente diz respeito a um novo grupo de estudantes que passou a enxergar o Enem como caminho para a universidade. É possível que eles tenham mais dificuldade e acabem puxando a nota para baixo — avalia. — O número de apenas 250 redações com nota máxima é espantosamente baixo. Acho improvável que só 250 estudantes, num universo de 6 milhões, tenham proficiência máxima em redação. Isso pode ser reflexo de um cuidado excessivo para que a avaliação não volte a enfrentar críticas, como já aconteceu em edições anteriores.
(…)
Das 529.374 redações que tiraram zero, 217.339 receberam a nota por fugir ao tema, segundo o Ministério da Educação. Entre os que tiveram o texto anulado porque copiaram trechos da coletânea motivadora, estão 13.039 candidatos. Já 7.824 escreveram menos de sete linhas, daí a anulação.
‘QUESTIONO SE CORRETORES TIRARIAM MIL’
Professor de redação do curso Descomplica, Rafael Cunha tem explicação diferente para o recorde de notas mínimas:
— A nota zero me parece clara. A quantidade grande já devia ter acontecido antes, mas, na tentativa de não fazer a média cair muito, eles (corretores) acomodaram. Agora, parece que se determinou que notas mil têm que ser poucas, mesmo que (as redações) atendam aos critérios. Afunilaram de outra forma e, na dúvida, diminuíram a nota e tiraram algum ponto. Questiono se todos os corretores seriam capazes de tirar nota mil se fizessem a prova.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/leitura-segredo-da-redacao-nota-mil-no-enem-15054768#ixzz3OvMf9wFS
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O verdadeiro preço de um brinquedo
É comum vermos comerciais direcionados ao público infantil. Com a existência de personagens famosos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes. No entanto, tendo em vista a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?
Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais artifícios já foram responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no Brasil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.
O problema surge quando tal discurso é direcionado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária seguem um certo padrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram crianças, em grupo, utilizando o produto em questão.Tal manobra de “marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato dela possuir ou não os mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da pouca capacidade de discernimento infantil.
Fica clara, portanto, a necessidade de uma ampliação da legislação atual a fim de limitar, como já acontece em países como Canadá e Noruega, a propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é preciso focar na conscientização dessa faixa etária em escolas, com professores que abordem esse assunto de forma compreensível e responsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem abusiva da ingenuidade infantil.