As recentes obras de revitalização da área do Porto Maravilha, localizado no centro do Rio de Janeiro, têm despertado o interesse da cidade pelos aspectos culturais que envolvem a região portuária, onde, por exemplo, muitos dos africanos escravizados desembarcaram, ao longo do século XIX.
Muitos vestígios desse período vieram, e ainda estão vindo, à tona, graças aos trabalhos de escavação arqueológica e de catalogação realizados, nesse processo de revitalização. Por isso, os estudantes matriculados na 3ª Série do Ensino Médio do Colégio Notre Dame Ipanema participaram, na terça-feira (27), de aula multidisciplinar, na nova zona portuária da Cidade Maravilhosa.
No local, os adolescentes visitaram o Cais do Valongo e da Imperatriz, espaços representativos da chegada da população negra ao Brasil, o Jardim Suspenso do Valongo, símbolo da história oficial que buscou apagar traços do tráfico negreiro, a Pedra do Sal, um ponto de resistência, celebração e encontro, e o Cemitério dos Pretos Novos, no qual é evidenciado o tratamento indigno dado aos restos mortais dos africanos, ao percorrer o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana Realizada, mantido em parceria com o Instituto Cultural dos Pretos Novos.
Segundo o docente de História, Ronaldo Ferreira, a região possui um grande valor histórico, político e cultural para a cidade. Por isso, a atividade in loco possibilitou a retomada de uma parte da história da escravidão africana e dos seus desdobramentos, enquanto a educação e a cultura eram enfatizadas como instrumentos de conscientização e de libertação.
Afinal, a aula além-muros veio ao encontro de atividades realizadas ao longo do trimestre, com o intuito de que os adolescentes conheçam e valorizem a memória, o patrimônio cultural brasileiro e os demais elementos que podem auxiliar na compreensão e na preservação da História brasileira, de quem somos, do que construímos como Nação e por que assim o fizemos.
Sob o aspecto do resgate da dignidade dos povos, sejam eles de que procedência ou etnia forem, a aproximação com as suas culturas, a audição das suas memórias e a contemplação atenta e respeitosa, das suas trajetórias, possibilitadas ao longo do Circuito, são pequenas atitudes para cada jovem, mas grandes passos na trilha da evolução da humanidade, enaltece a diretora do Colégio Notre Dame, Irmã Loiva Urban. “A atitude dos estudantes foi indicativa de uma mudança de paradigmas e no direcionamento de um novo olhar para a história, da qual todos somos autores e consequentes. Compreender e internalizar os valores da dignidade humana foi, também, o que esta tarde proporcionou”, comenta.
Mesmo sendo uma atividade que, por natureza, tende a privilegiar um “estilo informal” de aprendizagem, a caminhada contribuiu, ainda, para promover o cumprimento do que dispõe a Lei 10.639, de 2003, sobre o ensino da história e da cultura afro-brasileira, e para preparar os vestibulandos para as provas que se aproximam, uma vez que o conhecimento sobre as lutas e a cultura negra, o negro na formação da sociedade nacional e suas contribuições nas áreas social, econômica e política do país tende a ser amplamente cobrado no processo seletivo para ingresso na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e no Exame Nacional do Ensino Médio.