Cineasta e escritor, Alan Minas participa de bate-papo com estudantes
8 de agosto de 2019 Notícias

DSC_0032Uma obra que percorreu caminho inverso ao usual – de filme a livro, “A Família Dionti” foi tema de bate-papo entre seu idealizador, Alan Minas, e os estudantes do 6º Ano do Ensino Fundamental. DSC_0072Afinal, a leitura da densa narrativa foi recomendada aos educandos, pois, como explica o docente responsável pela visita do cineasta e escritor ao Colégio Notre Dame Ipanema, Fernando Arosa, favorece a experiência da metáfora – um dos conteúdos programáticos do segmento de ensino e figura de linguagem cujo entendimento é imprescindível ao leitor maduro”, justifica.

Durante o encontro com os estudantes, Minas revelou que, depois de cinco meses trabalhando no filme, os personagens continuavam “cochichando” com ele. “Então, mergulhei na escrita do romance”, concluiu.

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Confira, abaixo, a resenha do educador:

A Família Dionti, de Alan Minas

Fernando Arosa

A Família Dionti, texto de Alan Minas, publicado pela Berlendis & Vertecchia Editores, é uma instigante e deliciosa narrativa cuja experiência ficcional nos traga para o olho de um furacão, uma espécie de desvio, uma estrada renovada, um susto, uma risada, um suspiro de alívio, uma saudade… texto carregado de marcações, fruto de um trabalho intenso de busca pela palavra certa, mesmo que, por vezes (pouquíssimas),  nos leve ao excesso da adjetivação, nada  compromete o encanto da criação dos espaços e suas importâncias. Recria palavras, desenvolve um troca-troca semântico inebriante: “Desatou o olhar, palitou o resto da comida e das coisas não ditas agarradas entre os dentes”.

Há uma busca incessante por universos internos que passeia em campos semânticos de raíz, sonho, entender-se… é uma filosofia de quem conhece o mundo pelo empirismo. Personagens que brotam dos fonemas, morfemas, da força da linguagem; uma gama enorme de figuras que transitam ora etéreas, ora concretas nos espaços da narrativa. Tempo e Saudade alcançam categoria de personagem, há a Água também que lava traições, esbanja amores…

Capítulos? Quando abertos, somos encaminhados para o olhar daquele personagem, mas, como na vida, tudo se mistura. Personagens que têm suas ações no conceito do seu nome, por exemplo, Sono, com letra maiúscula, que entra em cena, não apenas a brecha da vida que temos para o descanso, mas uma persona que, sorrateiramente, domina o quarto de Kleiton e Sirino e os faz imergir na noite.

O nome dos personagens é um capítulo à parte: Pedro Muito, Poesina, Salvador (o farmacêutico), Intromelissa, Dona Centenádia, Dona citronela, entre outros, trazem a leveza, a diversão, o humor, a reflexão…esses personagens são descritos com delicadeza, profundos segredos revelados por um narrador que desconhece imparcialidade.

Há um “Surrealismo” entre aspas que se adensa à medida em que, sem trégua, somos submersos nas fantasias propostas pelo enredo: açúcar puro, no mais primitivo de seu doce. “Ilusângela usou o dedo mínimo para acionar o pequeno botão desbotado no canto da foto, deu a partida. As engrenagens da roda-gigante voltaram a funcionar. As luzes, o realejo, tudo alcançou um brilho intenso, e o brinquedo voltou a girar, a girar… sem tempo para acabar.”

Há criatividade sintática, nada que subverta por subverter, mas por torná-la também personagem dos personagens, a estrutura da língua está a serviço de sua criação.

O enredo acontece com histórias paralelas ricas em curiosidades: Kelton, desreprezado, se esvai enquanto Sirino, ressequido, saudade pura, desmancha-se em terra, poeira, ciscos… Irmãos nessa família em que Josué, pai “contido nas três letras”, manobra a ausênciafuga da mãe… a existência do “medo de somar saudades”. O padre se consulta com Vaidalva, a rezadeira de Mundeiró, o médico, Sofia e Samanda, disputando bonitezas, Vô Abelino…uma beleza.

Amores, pureza, enxurradas, vazamentos, corredeiras, uma história de muitas correntes…

  • Colégio Notre Dame Ipanema