“Quem fez isto?” é a pergunta clássica de um romance policial. Posta, dessa forma, pela primeira vez por Arthur Conan Doyle – criador de Sherlock Holmes-, ela serve de base para esse gênero literário.
Investigações, pistas, polícia, assassinatos, romance, delegacia e análise de comportamentos: esses são alguns elementos que podem levar aquele que lê a crer que se trata de uma nova trama com o detetive mais famoso da literatura mundial como personagem principal, porém o leitor também entra em contato eles ao imergir nas obras do vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura e convidado do Colégio Notre Dame Ipanema para uma palestra, Luiz Alfredo Garcia-Roza.
O autor de best sellers como “O Silêncio da Chuva”, “Céu de Origamis”, “Fantasma” e “Uma Janela em Copacabana” esteve na instituição de ensino, na manhã de sábado (25), para encontrar-se com leitores.
O evento faz parte do Projeto “Lendo e escrevendo na escola: uma atitude necessária e sustentável”, desenvolvido em todas as unidades escolares mantidas pela Rede de Educação de Educação Notre Dame. Motivados por ele, ao longo do primeiro trimestre letivo, estudantes, pais e responsáveis e educadores do Ensino Fundamental II foram convidados a ler os livros e a participar de debates acerca das obras de Garcia-Roza. As atividades de leitura e socialização das obras tiveram o seu ápice na palestra.
O que esse público presenciou foi uma verdadeira aula de literatura, segundo a diretora do Colégio, Ir. Loiva Urban. “Luiz Alfredo Garcia-Roza deu uma aula sobre Romance Policial e sobre a ‘literatura-arte’. Quem esteve presente, captou os ensinamentos que, com certeza, foram muito significativos”, destaca.
Segundo o autor, embora um assassinato seja algo negativo, ele pode ser expresso, literariamente, tão bem e tão brilhantemente, que é capaz de tornar o texto uma obra de arte, uma joia literária. Guernica, de Picasso, exemplifica a afirmação no campo das artes plásticas, pois a guerra, retratada com todas as suas mazelas, gerou um quadro de valor inquestionável.
Os romances policias, considerados populares, podem ser, como qualquer outro exemplar da literatura, uma obra de arte, de alta qualidade, complementou Garcia-Roza. E assim são os seus, que se tornaram conhecidos do público e reconhecidos, através de premiações nacionais.
Ambientados na Zona Sul do Rio de Janeiro, os dramas policiais criados pelo autor são relacionados a temas atuais. Neles, os assassinatos – fatos que desencadeiam as narrativas – não são eventos ou comportamentos, são significações de acontecimentos. Talvez por isso, associado à riqueza de detalhes e à profundidade do enredo, os olhos de cineastas brilharam com anseio de filmar as histórias do Delegado Espinosa, que além das páginas já está ganhando as telas.
Espinosa, o Sherlock Holmes brasileiro, causa nos cariocas o mesmo frisson que o inglês causa em Londres. Já é comum que as pessoas busquem pelo endereço onde “vive” o delegado ou vão ao bar que ele “frequenta”, na tentativa de encontrá-lo. Como Sherlock, o delegado não passa de um personagem de ficção, mas o sucesso dos livros de seu autor faz muitos acreditarem que ele é real.
Outro assunto que foi amplamente abordado pelo palestrante foi a importância de ler mais de uma vez o mesmo livro. Afinal, ler é um processo de significação. “Ler um livro é como interpretar um sonho. Se você contar seu sonho para vários psicanalistas, cada um o interpretará de uma maneira e, às vezes, o mesmo poderá interpretar de formas diferentes dependendo do contexto. Assim é a leitura. Ler novamente é dar novo significado. Um livro é uma fábrica de sentidos e significação”, explica, o autor, esclarecendo que não se trata de produção em série, mas, de potencialidade da criação de significados e interpretações.
Os participantes do encontro com Garcia-Roza ainda foram estimulados a seguir sendo leitores ávidos. A partir do pedido da estudante da 2ª Série do Ensino Médio e fã das tramas criadas pelo autor, Fernanda Luis Nunes de Mattos, que pretende ser escritora de romances e solicitou uma dica para alguém que está começando, o escritor incentivou a ela e aos demais presentes. “Leia muito e escreva muito. Se não gostar de algo, rasgue ou guarde numa gaveta. Se optar por guardar numa gaveta significa que não foi tão ruim assim e poderá retomar em outro momento. Mas, acima de tudo, escreva muito e leia muito mais!”, disse o autor à estudante. “O mais importante é ler. Escrever é consequência!”, complementou.
“O silêncio da chuva”
Sinopse: No centro do Rio de Janeiro um executivo é encontrado morto com um tiro, sentado ao volante de seu carro. Além do tiro, único e definitivo, não há outros sinais de violência. É um morto de indiscutível compostura. Mas isso não ajuda: ninguém viu nada, ninguém ouviu nada. O policial encarregado do caso, inspetor Espinosa, costuma refletir sobre a vida (e a morte) olhando o mar sentado em um banco da praça Mauá. No momento tem muito sobre o que refletir. De um lado, um morto surgido num edifício-garagem; de outro, a incessante multiplicação de protagonistas do drama. Tudo se complica quando ocorre outro assassinato e pessoas começam a sumir.
Prêmios:
Prêmio Jabuti 1997 de Melhor Romance
Prêmio Nestlé de Literatura 1997
“Céu de origamis”
Sinopse: O delegado Espinosa está de licença. Por isso, quando uma bela mulher o procura para pedir sua proteção, ele trata de ajudá-la em caráter não oficial, só não sabe que ela é a ponta de um labirinto de interesses, manipulações e mentiras em que poderá se perder. Cecília é uma secretária competente. Depois que seu patrão sai do consultório dentário ela guarda todo o equipamento, desliga os aparelhos, tranca a porta e vai embora. Tudo é sempre previsível e ela jamais poderia imaginar que no dia seguinte receberia a visita da polícia em busca de informações sobre seu patrão. Na véspera o doutor desaparecera sem deixar sinal. E havia um detalhe – o carro de doutor Marcos estava estacionado exatamente onde deveria estar em sua vaga na garagem do prédio onde morava. O que teria acontecido com o dentista?
“Fantasma”
Sinopse: A mulher sentada à beira da calçada na avenida Nossa Senhora de Copacabana só se sente em casa vivendo na rua – estar entre paredes a oprime, ela tem a sensação de que vai morrer sufocada. Muito gorda, tem dificuldade para se mover. Mesmo assim, não descuida da aparência. Tudo indica que ela viu quem enfiou uma faca no homem muito branco, talvez um estrangeiro, que amanheceu morto na calçada a alguns metros dela. Mas Princesa costuma sonhar, às vezes até quando está acordada. Isaías é o grande amigo de Princesa. Ele sabe que a amiga viu alguma coisa que não deve ser lembrada. Acredita que precisa proteger a qualquer custo a moça dos perigos que podem surgir da noite. Como Princesa, Isaías é incapaz de lidar com o mundo complicado onde os dois vivem; como ela, é indefeso e vulnerável.
“Uma janela em Copacabana”
Sinopse: Copacabana, Rio de Janeiro. Três policiais são executados em curto espaço de tempo. Eram tiras medíocres, e suas mortes têm muito em comum. Foram eliminados por um assassino frio, que não deixa rastro e costuma disparar à queima-roupa.
De imediato, o mundo policial entra em rebuliço. Quem estaria disposto a correr o risco de sair matando tiras, ainda que inexpressivos? À própria polícia? E por quê?