“Os jovens de hoje gostam do luxo. São mal comportados, desprezam a autoridade. Não têm respeito pelos mais velhos e passam o tempo a falar em vez de trabalhar. Não se levantam quando um adulto chega. Contradizem os pais, apresentam-se em sociedade com enfeites estranhos. Apressam-se a ir para a mesa e comem os acepipes, cruzam as pernas e tiranizam os seus mestres.”
Sócrates (470-399 a.C.)
O texto, aparentemente tão atual, foi lido pela diretora do Colégio Notre Dame Ipanema, Irmã Loiva Urban, durante a abertura do Encontro de Formação de Pais, realizado na sexta-feira (29).
Como o evento abordava a temática da adolescência, os responsáveis presentes assistiram à apresentação do espetáculo teatral “Adolescendo Tipo Assim”, que está em cartaz no Auditório da instituição de ensino, aos finais de semana. A peça, a primeira produzida pela Companhia Terceiro Sinal com temática exclusivamente ao jovem, aborda os conflitos existenciais de meninos e meninas na mais conturbada e divertida fase de suas vidas. O primeiro beijo, relacionamentos com os amigos e com a família, o primeiro namoro, a sexualidade, o Enem e, até, os conflitos estéticos fazem parte do roteiro, que também conta com muita música e bom humor.
Após a apresentação da peça, os espectadores debateram com o diretor teatral, Henrique Kaladan, com o elenco do espetáculo, com a coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental II, Elizabeth Cavalcanti, com a psicopedagoga, Júlia Lázaro, e com a supervisora de ensino da Rede de Educação Notre Dame, Claudia Toldo, algumas das questões representadas em cena.
Segundo o estudante da 1ª Série do Ensino Médio, João Duarte, o espetáculo mostra a importância da compreensão. Complementando a colocação do adolescente, Claudia comentou que a questão não é só conseguir ver situações no lugar do outro, mas, para entender a adolescência, é preciso pensar e perguntar. “Afinal, temos adultos que não tiveram o privilégio de viver a adolescência porque precisaram trabalhar e cuidar da família. Para eles é mais difícil compreender para fazer essa troca de lugares”, explica.
Para Felipe Albuquerque, pai de educando do Ensino Fundamental II, o maior benefício da paternidade é o de criar os filhos, acompanhar o crescimento e ter oportunidade de vê-los trilhando um caminho de sucesso. “É a integração de presença cotidiana e de valorização dos momentos o que importa”, sintetiza.
Questionada por uma das mães sobre o início da adolescência, a psicopedagoga explicou que a adolescência é o início do autoconhecimento, marcado pelas mudanças corporais e pelo pedido de diálogo e compreensão. “Os pais estranham o fato de que os filhos, que, até então, obedeciam e estavam superprotegidos, agora questionam e buscam por uma liberdade utópica de poder tudo e querer tudo. A cultura local e a mídia intensificam esses sentimentos”, conclui Julia.
Reafirmando a importância da arte e do esporte na vida do jovem, Henrique afirmou que, por meio deles, os adolescentes tornam-se mais expressivos e comunicativos. “Além disso, a organização e disciplina que são adquiridas acabam, na maioria das vezes, sendo adotadas como características dos praticantes “, explicou o diretor da companhia teatral.
Ao longo do debate, o ex-aluno e, hoje, ator Pedro Lontra afirmou que estar em contato diário com os adolescentes é ótimo para atualizar-se. “Eu tenho cinco ou seis anos a mais que eles e me perco nas gírias e nos assuntos das conversas. Então, peço que me expliquem para ficar mais fácil compreender o que dizem”, afirma, completando ainda que pais e filhos também deveriam conversar e tirar dúvidas. “Somos humanos, ou seja, nossa natureza é igual. Mas, a realidade é diferente e compreender o que o outro fala é importante para nosso convívio social”, conclui.
Para coordenadora, Elizabeth, a adolescência é um período conturbado para ambas as partes. “Se para os pais é complicado ver seus filhos agindo de maneira mais independente, imagine para os adolescentes, que estão acostumando-se com o próprio corpo e construindo a identidade individual e coletiva? Recomendo sempre uma dose diária de diálogo e afeto”, orienta.