“É antes do ópio que a minh’alma é doente”: extraída da poesia Opiário, de Fernando Pessoa, a frase resume a reflexão proposta pelo Colégio Notre Dame Ipanema a estudantes e famílias, na manhã da última quarta-feira (18). Afinal, compreender a vulnerabilidade da adolescência e a importância de estreitar os laços familiares é, ainda mais, primordial que entender as mazelas provocadas por cada tipo de droga, seja ela lícita ou ilícita.
Para conduzi-la, dois especialistas em Dependência Química do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (NEPAD) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foram convidados a participar do Programa de Formação de Pais Notre Dame.
Utilizando-se do humor e de linguagem metafórica, o clínico geral, Felipe Fortes, explicou que o humano e suas relações e sentimentos são os grandes elementos da complexa equação que resulta no uso de psicotrópicos. “As drogas não fazem mal a ninguém. Coloque um cigarro qualquer na mesa e você pode ficar bem próximo a ele sem medo. Ele não fará mal algum a você”, exemplificou o médico, que também é hebiatra – especialista em adolescência.
A psicóloga e diretora do NEPAD, Ivone Ponzek, por sua vez, relatou que há estudos que apontam que a dependência química pode ter raiz na infância. De acordo com ela, demora-se, cada vez mais, a fomentar a autonomia da criança ou do adolescente. “Se atendemos a todos os desejos, eles não sentem a falta e é através da falta que percebem a necessidade e começam a se construir”, explicou. Para a família, prosseguiu, é um sofrimento perceber que a ‘mochila foi para as costas e virou asas’, mas é um sofrimento necessário.
Ivone também esclareceu que negar os conselhos e as experiências dos pais representa a autoafirmação do filho como indivíduo. “É o momento deles dizerem ‘eu existo independente de você’. É momento de ‘desidealizar’ o superpai e a supermãe”, exemplificou. “Mesmo assim, é o principal momento em que temos que estar ali, dando colo, abraço, ouvindo e se fazendo ouvir”, aconselhou.
Ao final da palestra, o médico e a psicóloga convidaram os pais a analisar a relação familiar, por meio das perguntas:
Por fim, orientaram-nos a estreitar as relações e a compartilhar com seu filhos aspectos da sua adolescência. Afinal, diálogo e proximidade são grandes aliados no combate ao uso de drogas.